
A vinda da Ângela do NTE (Núcleo de Tecnologia Educacional) em nosso grupo de trabalho de educação e jovens e adultos e as conversas que tivemos sobre as possibilidades do uso das tecnologias na escola têm feito eu pensar sobre meu trabalho. Ângela falou-nos sobre os limites do uso do computador quando encarado como uma forma mais sofisticada de redigir textos, ou ainda, quando a Internet é vista como uma fonte mais rica pesquisa, pesquisa esta ainda entendida como reprodução de idéias alheias. Estes usos não explorariam, por exemplo, a interatividade, descortinada pela tecnologia de informação (TIC). A diversidade de formas de compartilhar conhecimentos possibilitada pelas TICs poderia contribuir no desenvolvimento de práticas pedagógicas mais ricas, nas quais os alunos assumiriam o papel de autores e várias linguagens poderiam ser articuladas. Estas indicações me fazem pensar nos limites do trabalho que tenho desenvolvido com meus alunos. Não digo que tenho tratado a pesquisa como reprodução. Costumo levar os alunos no laboratório de informática com questões problema e com sites indicados para buscarem pistas para respostas (ou mesmo para formularem novas perguntas). É certo que, por vezes, trata-se de uma simulação de investigação, pois ela está prevista para ser desenvolvida numa certa trajetória já vislumbrada por mim, professor, sem muitos espaços para outras procuras. Por vezes, as próprias questões de investigação parecem ser questões minhas e não dos alunos.
Por outro lado, olhando com atenção o desenrolar do trabalho percebo que, muitas vezes, as coisas se passam de modo mais complexo. Alguns alunos se apropriam das questões como suas e curiosidades novas ganham espaço. A diretividade na indicação do site parece representar uma seleção prévia necessária diante do difícil desafio de escolher textos mais ricos para a compreensão do tema em questão (parte de um trabalho mais amplo de formação dos alunos leitores que não pode deixar de ter como horizonte uma relação mais autônoma, crítica e imaginativa com os textos). Talvez o principal problema seja o excessivo controle (ou melhor, o desejo ou a ilusão de ter este controle) sobre os resultados e a pobreza da socialização dos mesmos, ou a inexistência desta socialização. Os processos de produção de conhecimento que podem ocorrer na escola talvez tenham nas TICs possibilidades de elaboração, compartilhamento e documentação inusitados. Processos que podem descortinar outros horizontes cognitivos, outras sensibilidades.
Quando o trabalho se desenvolve a partir de um caminho pré definido (questão fechada, site fechado, resposta pronta já esperada) a tendência é que as compreensões produzidas sejam mais limitadas. Mas se o planejamento prevê e almeja transgressões de um roteiro prévio, os resultados (e os processos) podem ficar mais ricos, mais antenados com a complexidade dos fenômenos investigados e com o próprio ato de conhecer. Na reunião com Ângela lembro-me da Giu problematizando uma possível idealização dos usos que os alunos mais jovens tem feito da Internet. Como o uso de jogos, de sites de relacionamento, o compartilhamento de músicas e imagens tem participado do desenvolvimento dos jovens, dos modos como eles vêem o mundo e a si mesmos? O que as formas escolares de conhecimento tem a aprender e a dialogar com estes modos de conhecer produzidos pelos alunos no contato com as TICs?
A fala da Ana Paula, quando avaliávamos a reunião com Ângela, também nos convida a continuar a prosa: avalia-se que, em grande medida, os usos dos recursos da informática pelos professores na escola ainda são muito restritos. Mas afinal quais seriam possibilidades concretas de práticas pedagógicas que exploram as potencialidades das tecnologias?
Estou pensando alto... pra pensarmos juntos...