segunda-feira, 22 de março de 2010

Pesquisa na escola e os usos das tecnologias II






Cláudio e demais professores do Guará,
Esse tema tem ocupado cada vez mais o meu tempo.
Faço aqui apenas alguns "testemunhos" bem informais para vocês para ver se deles algo se aproveita. Uma coisa que me chamou a atenção no início do texto postado pelo Claudio foi:
"forma mais sofisticada de redigir textos, ou ainda, quando a Internet é vista como uma fonte mais rica pesquisa, pesquisa esta ainda entendida como reprodução de idéias alheias."
Sobre esses dois "modos", me vem logo à mente que, mesmo sendo duas interações já consideradas "tradicionais" dentro das TIC, nas quais não há "novidades" nem janela de ganho efetivo na educação, justamente nessas utilidades posso falar de duas ferramentas que mudam os próprios conceitos subjacentes que lhes deram origem. A primeira ferramenta é a da edição de textos on-line. Me lembro de ver uma das primeiras, o Writely, há não mais que 3 ou 4 anos atrás. Cheguei a testar, muito rapidamente e mesmo achando a ideia interessante, a coisa estava muito crua. Há uns dois anos o Google (sempre ele) comprou o Writely para integrar à sua própria suite de edição de textos online: GoogleDocs. Aliás, não apenas textos, mas também planilhas e apresentações. Agora são poucos os que não conhecem o termo "computação nas nuvens" para se referir à futurística volta ao passado de centralizar a computação em um lugar único e acessarmos essa computação a partir dos antigamente chamados de "terminais burros". Simplificando e exemplificando: eu e meus colegas mais chegados de laboratório iniciamos em 2009 o teste o GoogleDocs para escrever cerca de cinco artigos (e os textos auxiliares, como cartas aos editores e revisores) colaborativamente. A escrita colaborativa simultânea e reconciliável é para mim o dividendo mais importante dessa "computação nas nuvens" aplicada à edição de textos (e outros tipos de documentos também). Isso significou poder traduzir um texto, em um parágrafo abaixo, simultaneamente com o colega que escrevia esse parágrafo. Isso significou também trabalhar de modo realmente simultâneo com quatro pessoas ao mesmo tempo e em lugares diferentes e chegar a algo concreto sem gerar mil versões, sujeitas a erros e confusões, que teriam que ser processadas em sequência. E eles ainda estão aprimorando e adicionando novidades numa velocidade animadora. Agora imagine essa ferramenta sendo usada por uma turma, que vai ter que se organizar, criar uma etiqueta e códigos de sinalização no próprio texto para chegar numa produção coletiva, assenhoreada por todos. Maturidade pode ser um requisito, mas pode ser também um resultado dessa experiência. Outra coisa, mais "corriqueira" nessa ferramenta é vc e seus colegas também usá-la para darem acesso simultâneo (mas totalmente controlável) à produção de textos, "individual" ou coletiva. Essa tem sido nossa experiência e posso dizer que é marcante. Finalmente, se vocês tem um GMail, então já tem uma conta para começar a produzir seus textos com o GoogleDocs. A outra grande ferramenta, a qual eu não ainda não experimentei, mas queria muito, é a plataforma wiki. Estamos acostumados a ouvir "Wikipedia", sendo que muitos ainda torcem o nariz porque "como pode algo sem controle central dar certo?". A wikipedia é apenas uma aplicação da tecnologia wiki, que é aberta e livre. Essa tecnologia serve para, também de modo colaborativo, organizar conhecimento. Várias empresas hoje montam wikis internos e externos para organizar o saber corporativo a cerca do que fazem. Já vi projetos de livros didáticos no Brasil e no exterior montados sobre a plataforma wiki. E quanto à questão do controle, ele é possível sim, a questão é saber quando ele é desejável. Agora imagine uma turma organizando de modo "natural" o seu conhecimento coletivo sobre um assunto, uma disciplina, ou sobre tudo o que tem contato na escola de modo colaborativo. Novamente precisa de etiqueta, códigos e maturidade. Novamente essa maturidade pode ser um requisito ou um resultado da experiência. Sobre as wikis, a pesar de ficar babando, ainda não organizei qualquer conhecimento coletivo com elas. É algo que quero fazer com a minha pesquisa. Professores do Guará, essas crianças estão se "acostumando mal" a serem as protagonistas(1). Coisa melhor não há! Quando perceberem que esse protagonismo pode se estender quase que indefinidamente no seu espaço de atuação social (escola, trabalho, política), aí ninguém segura. O nosso papel é correr atrás e aprender para ensinar, e assim ver se aprendemos. Já pensou um mundo onde o conhecimento saísse rasgando barreiras e se democratizasse? Que pensamento poderoso.
Abraços,
Agremis
(1) Já perceberam que no orkut/facebook as crianças colocam milhões de fotos e nessas fotos, não raro, são como se fossem celebridades? E os outros acessam e conferem celebridade de fato a quem é visitado. O como se tivessem tomado (criado) um espaço midiático que era para poucos.

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