terça-feira, 13 de abril de 2010

"PROFESSORES DE CASTIGO" 2

Realmente sinto dificuldade de discutir esta saída encontrada pela prefeitura de Nova York. Não sei como são as condições de trabalho destes professores, como é a formação que eles recebem e nem qual é o critério para chamá-los de “incompetentes” ou “descomprometidos”. Será que é alguma avaliação externa, pontual, sem considerar a falta de condições de trabalho destes profissionais ou de vida das crianças? Ou não é isso, e estão tendo alguns dados de comportamentos que não deveriam ser aceitos como, por exemplo, agressão aos alunos, não preparo de aulas, falta de usar os conhecimentos e os recursos materiais que a escola até oferece, apenas porque não estão preocupados com as crianças? O que estão chamando de “incompetência” também pode ser um professor adoecendo pelo stress do trabalho e neste caso precisa ser cuidado. Todo profissional passa por momentos mais difíceis, isso a gente vê andando pelas escolas. E isso tem que ser pensado como política pública de atendimento dos trabalhadores. O trabalho em educação é um dos que mais adoece. Agora, o próprio modo como esta matéria desta revista nojenta é escrito não é para pensarmos políticas de educação pública. O que está colocado é a privatização, é o fim da estabilidade, é o deboche para com os trabalhadores da escola pública.Esta revista não quer nos ajudar a entender o problema, por isso não lança os dados todos sobre a mesa, por isso não faz análise do problema. Seu único objetivo é atacar os professores que tem estabilidade no emprego, ridicularizá-los e abrir caminho para o mercado na educação pública.Não posso falar por Nova York , mas posso falar por nossa rede. Estamos a milênios de termos as condições de trabalho que precisamos. Mas mesmo assim, temos visto crescer os coletivos de professores dentro das escolas. Coletivos que pensam seu trabalho, que planejam e realizam muitas coisas importantes com as crianças e jovens, que fazem o melhor que podem com as condições que tem. Que potencializam as condições que já conquistaram e lutam por melhores condições. Literalmente, vejo alguns professores e alguns coletivos de escola "tirando leite de pedra", já que as condições são todas para "dar tudo errado". E aí temos escolas com melhores condições que outras, em vários sentidos (materiais, de espaços físicos, de número de alunos por turma, de recursos humanos etc),como avaliar igualmente o trabalho destes professores? Eu pessoalmente não gosto das palavras "competente" ou "incompetente", porque como disse Paulo Freire "Ninguém conhece tudo, ninguém desconhece tudo", nós aprendemos e nos formamos juntos, no mundo. Somos todos capazes de aprender aquilo que queremos ou necessitamos, mas precisamos de condições para isso. Gosto mais da palavra COMPROMISSO, ela tem mais sentido para mim. Ela me remete à vontade, à busca, ao profissionalismo. Com as condições que temos, como podemos fazer o melhor? E compromisso é sempre consigo mesmo e com os OUTROs, com o colega professor ou gestor da escola, com as crianças e jovens, com suas famílias.Agora, nós que trabalhamos na escola pública temos que entre nós aprofundar esta discussão: em algum momento, em alguma condição, um professor/um OP/um diretor/um CP/supervisor/guarda/merendeira/seja lá quem for, deve ser “retirado” do seu local de trabalho porque não consegue ou não quer ensinar/desempenhar suas funções? Ou porque não respeita as crianças e jovens? Em alguma situação um professor/OP/CP/diretor/supervisor/guarda/merendeira ou seja lá quem for poderia perder o emprego na escola pública? Por qual motivo? Ou isso jamais deveria ocorrer porque não temos as condições ideais de trabalho? Sonia - Coordenadora Pedagógica - Naed Sul

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