domingo, 13 de junho de 2010

NÃO TE RENDAS


Não te rendas, ainda estás a tempo

de alcançar e começar de novo,

aceitar as tuas sombras

enterrar os teus medos,

largar o lastro,

retomar o voo.


Não te rendas que a vida é isso,

continuar a viagem,

perseguir os teus sonhos,

destravar os tempos,

arrumar os escombros,

e destapar o céu.


Não te rendas, por favor, não cedas,

ainda que o frio queime,

ainda que o medo morda,

ainda que o sol se esconda,

e se cale o vento:

ainda há fogo na tua alma

ainda existe vida nos teus sonhos.


Porque a vida é tua, e teu é também o desejo,

porque o quiseste e eu te amo,

porque existe o vinho e o amor,

porque não existem feridas que o tempo não cure.


Abrir as portas,

tirar os ferrolhos,

abandonar as muralhas que te protegeram,

viver a vida e aceitar o desafio,

recuperar o riso,

ensaiar um canto,

baixar a guarda e estender as mãos,

abrir as asas

e tentar de novo

celebrar a vida e relançar-se no infinito.


Não te rendas, por favor, não cedas:

mesmo que o frio queime,

mesmo que o medo morda,

mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,

ainda há fogo na tua alma,

ainda existe vida nos teus sonhos.

Porque cada dia é um novo início,

porque esta é a hora e o melhor momento.

Porque não estás só, por eu te amo.

(Mario Benedetti)

Um comentário:

  1. Que bonito Cláudio!

    Comento com Paul Èluard:

    De O dever e a inquietude (1917)

    Inquieto por um ceú devastado,
    Pela chuva que virá molhar-nos,
    Vou pensando na felicidade
    Que nos dominaria, se quiséssemos.

    O dever e a inquietude
    Partilham minha vida rude.
    (Dá-me grande pena
    Confessà-lo a voces).

    Há um cheiro pleno de verdura.
    No céu, em pleno céu, um vôo de andorinhas
    Nos diverte e nos faz sonhar.
    Sonho uma esperança tranquila.

    Um abraço,
    Sônia

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