domingo, 2 de setembro de 2012

Eleições municipais - Desilusão e responsabilidade

José Roberto Cabrera, diretor do Sinpro-Campinas e Região, atendendo ao nosso pedido de contribuições para aprofundar o debate sobre as eleições deste ano, enviou-nos o artigo abaixo. O texto foi originalmente escrito para atender a uma outra demanda mas traz provocações bastante pertinentes aos nossos debates. Obrigado, Cabrera, pela ajuda e abertura ao diálogo. Valeu!
Cartum de Dario Castillejos Lázcares - Cuba
A desilusão com nossa democracia representativa é cada vez mais perceptível. Em todas as classes sociais vigora uma atitude negativa em relação às eleições e ao Estado, atribuindo aos ‘políticos’ uma falta de ética e de compromissos diferente daquela que deveria vigorar entre os cidadãos. É como se todas as causas dos problemas do país pudessem ser reduzidas à corrupção e à
privatização do Estado. Motivos, é verdade, não faltam para a descrença no sistema, mas isso é histórico e está relacionado ao caráter do Estado. ‘Políticos’ não são uma categoria específica separada da sociedade. São os representantes de grupos específicos, de classes sociais que, de alguma maneira, se organizaram e administram o Estado em torno de seus interesses em todos os níveis. Ao definir esse conjunto de representantes com a terminologia ‘políticos’ colocamos no
mesmo barco interesses distintos e aí temos dificuldade em entendê-los, achando, por exemplo, que a terceirização dos serviços públicos é apenas uma questão técnica ou que a expulsão de brasileiros pobres de suas moradias em áreas de conflito é um problema jurídico. Não, a política é um espaço de conflito de interesses e, portanto, os ‘políticos’ – ainda que tenham um espírito corporativo – são, antes de tudo, membros de suas classes e atuam nessa direção.
A crise de legitimidade do Estado não é um fenômeno local. Em todo o mundo esse sentimento se manifesta. Varia o grau de intensidade e o foco, mas a desconfiança é generalizada. Isso indica a necessidade de aprofundar as formas de participação, de tomada de decisão e de controle ampliando a democracia e não o inverso. Diante disso, a indignação de muitos se transforma numa negação, na pregação do voto nulo. Em certas situações o voto nulo pode ser uma opção, como em 1970 e 1972, para denunciar a ditadura, a falta de liberdade, a tortura e a existência de um sistema eleitoral manipulado, mas será que é esse o quadro que temos hoje? Será que, de fato, não há opções e o sistema não permite nenhum tipo de mudança?
As transformações na vida política de um país não dependem apenas das eleições, mas elas se traduzem num espaço importante, capaz de sintetizar os anseios de mudança e as demandas da população. Se se abre mão desse tipo de intervenção, além de mantermos as mesmas práticas nefastas do clientelismo e do populismo por mais tempo, sinalizamos que alternativas autoritárias podem ser bem vindas e o custo disso nós sabemos.
Lutar por nossas demandas, estimular que os trabalhadores se organizem e escolham seus representantes comprometidos com a luta social é uma tarefa que temos que abraçar nessas eleições. Não podemos nos abster de participar desse momento importante da luta política no país. Para quem participou e acompanhou as lutas pela democratização do país (Diretas Já, a Assembleia Nacional Constituinte, o impeachment de Collor), as lutas de resistência contra o ataque neoliberal aos direitos dos trabalhadores e se preocupa, no dia a dia, em construir um país melhor, ficar de fora não é uma opção. Nessas eleições os candidatos populares, comprometidos com os interesses dos trabalhadores, com a democracia, com a luta pela transformação social devem ser apoiados. Nós, professores temos
responsabilidade dobrada, devemos estimular o debate, o senso crítico, a organização das demandas. Temos um compromisso com as novas gerações e não podemos fazer coro com a crítica derrotista e conservadora da direita brasileira. Bom voto e boa luta.

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